Às vezes, a sala de aula, pela sua própria configuração, empurra o ensino em uma certa direção já bem conhecida. O professor chega, deixa suas coisas em cima da mesa e transmite o conteúdo, utilizando o quadro ou uma série de slides, em seguida propõe atividades e o ciclo se fecha com avaliações.
Embora essa seja a maneira tradicional de ensinar, muitos professores sentem que não é a mais eficiente e buscam metodologias que tornem a experiência do aprendizado mais interessante.
No caso do ensino de estruturas, temos um assunto complexo, repleto de cálculos, teorias e detalhes que tornam o estudo difícil de compreender e de trazer para o mundo real.
Os Kits Estruturais Mola foram pensados como uma ferramenta de ensino que estimula a investigação e a curiosidade, mostrando os conceitos estruturais fundamentais mas também fornecendo a base para que se vá além do que é apresentado em sala de aula.
O FTMS ou Follow/Tinker/Make/Share é uma metodologia com foco no aprendizado por meio do fazer, projetada para tornar a experiência de alunos e de professores mais fluida por meio de projetos-plataforma.
Neste artigo vamos explicar um pouco sobre como os kits podem ser utilizados em conjunto com a metodologia FTMS para gerar aulas ainda mais engajadoras.
O que é o FTMS (e por que adotá-lo)?
O Dr. William Rankin é um teórico da educação com experiência em educação superior e foco no desenvolvimento de metodologias inovadoras de ensino e aprendizagem. Em 2016, Rankin ajudou a fundar o grupo Unfold Learning para ajudar escolas e empresas a implementar o modelo de "aprendizado cúbico", desenvolvido durante seu trabalho na Abilene Christian University e durante seu período como Director of Learning na Apple. Posteriormente, desenvolveu o "Follow/Tinker/Make/Share", junto ao Learning-by-Making Collective.
O FTMS é uma metodologia baseada no construtivismo, ou seja, uma abordagem orientada a projetos práticos, pensada de forma que os professores possam adaptá-la aos seus diferentes contextos de ensino.
Os princípios por trás do FTMS não são exatamente novidade. Já no início do século XX, Lev Vygotsky, Maria Montessori, e John Dewey falavam sobre o valor dos projetos no ensino e trabalharam para popularizar essa abordagem. Esses pensadores sabiam desde esse período que a descoberta é muito mais engajadora e interessante do que o consumo de informação. Por isso, já enfatizavam a importância de professores proporem desafios que conduzissem ao aprendizado autônomo.
O FTMS inclui uma fase de explicação, onde o estudante segue instruções, mas também incorpora projetos como uma maneira de introduzir organicamente as ferramentas e conceitos que vão ser necessários à sua execução. Os projetos se tornam o começo de um caminho de exploração e descoberta, de forma similar a alguém que adota um hobby.
Por exemplo, uma pessoa que decide aprender a programar fazendo um projeto com Arduino. Ela inicialmente estuda o tema, segue guias e tutoriais, aprende os fundamentos, mas logo coloca a mão na massa. É bastante comum que ela comece a modificar os projetos, dando um toque pessoal ao que aprendeu. Depois vai aprofundando, criando projetos próprios cada vez mais distantes dos guias iniciais. Em seguida, se envolve com uma comunidade de pessoas apaixonadas por Arduino e aprende ainda mais trocando experiências e avaliando os projetos de outros programadores.
A estrutura básica do FTMS segue de maneira similar a esse exemplo.
O Follow (Seguir instrução direta) constrói uma plataforma para o Tinker (Experimentar, modificar, iterar); que desenvolve as habilidades e conhecimentos necessários para o Make (Fazer, aplicar criativamente o que foi aprendido por meio de desafios); que prepara as bases para o Share (análise crítica, colaboração, troca de experiências).
Essas fases são projetadas para funcionarem juntas, conduzindo os estudantes por um caminho que exige um desenvolvimento cognitivo cada vez mais refinado. Enquanto eles avançam fase após fase, naturalmente se deparam com a necessidade de desenvolver suas habilidades, de se diferenciar, de criar, de superar desafios, de se comunicar, de liderar e de conviver.
Cada fase pede um engajamento mais profundo, mas também oferece a possibilidade de uma exploração mais diversa e personalizada, à medida que cada estudante se depara com desafios em seus projetos e troca experiências com outros estudantes.
Como funciona o FTMS?
Follow (Seguir)
Esta fase é a mais próxima do que normalmente se entende por "ensino tradicional''. Porém, aqui ela é usada como um ponto de partida e não como um fim em si mesma. Follow (Seguir) é a etapa na qual o aluno segue instruções, guias ou tutoriais. O objetivo é conduzir o aluno pelos fundamentos necessários para que ele forme suas compreensões iniciais a respeito do tópico.
Nesta etapa, é possível cometer enganos e desfazer ações com facilidade, pois os projetos ainda são simples, como plataformas nas quais se constrói as bases para a experimentação.
Dentro dessa proposta, os manuais que acompanham os kits exercem esse papel como um guia de estudo, onde é possível fundamentar seu aprendizado, absorvendo os conceitos básicos explicados em sala de aula por meio da montagem dos exemplos e dos guias de experimentação, de forma a sentir os fenômenos estruturais com as próprias mãos.
Uma das características marcantes dessa fase do aprendizado é que o projeto montado ainda é igual ao que é demonstrado nos guias ou no material de estudo.
Tinker (Experimentar)
Após a compreensão dos fundamentos básicos ao seguir um guia, torna-se natural que algumas perguntas surjam. "O que acontece se eu tirar essa peça?", "e se eu construir mais um andar?", "será que essa estrutura se sustenta sem esse cabo?".
Na etapa de Tinker (Experimentar), essas perguntas não apenas são acolhidas como são encorajadas. Ao fazer essas pequenas mudanças no projeto original, os estudantes começam a testar suas hipóteses e vão estendendo seu entendimento. Aqui começa a compreensão de como os conceitos fundamentais se relacionam e qual a importância deles por meio de mudanças incrementais.
Esses pequenos ajustes propostos iniciam o que Piaget chama de Esquema, ou seja, pontos de entendimento que se internalizam e constroem modelos mentais.
Enquanto na fase anterior todos os projetos tinham a mesma aparência, aqui eles começam a se diferenciar. Todas as experimentações são bem vindas, desde que mantenham o cerne do projeto-plataforma.
Make (Fazer)
O Make é a etapa onde um estudante aplica as habilidades e conhecimentos que desenvolveu nas duas etapas anteriores em um projeto próprio.
Após seguir os guias, absorver os fundamentos e experimentar para compreender melhor os fenômenos, esta etapa incentiva um amadurecimento do que se aprendeu sobre a disciplina ou assunto por meio da execução de uma ideia, de um projeto ou de um desafio com um briefing que pode ser compartilhado entre vários alunos ou pode ser um desafio autoimposto.
Ao contrário das fases de Follow e Tinker, no Make é importante focar em desafios maiores ao invés de uma construção básica ou de modificações. Por exemplo, "vencer um vão de X centímetros", "construir a torre mais alta com menos peças", "construir uma ponte que permita a passagem de uma miniatura".
O Make deve ser pensado de forma a desenvolver habilidades e conceitos tratados nas fases anteriores enquanto introduz novas expectativas em termos de protagonismo e criatividade. Esta etapa é de vital importância para trazer o estudo individual para a prática por meio da aplicação direta.
Os projetos gerados por essa fase ressaltam fatores importantes da prática: profundidade do conhecimento, habilidade de síntese, nível de entendimento conceitual, adaptabilidade e habilidade de organização e planejamento. Todos esses são importantes indicadores em processos de avaliação baseados em projeto, mas também são fatores-chave na continuidade do aprendizado, de forma a incentivar que o estudante incorpore o que foi aprendido no mundo real, não apenas no contexto de aprendizagem.
Share (Compartilhar)
Nesta última etapa há uma ênfase em aspectos de colaboração e comunicação, colocando a aprendizagem enquanto uma atividade tanto social quanto metacognitiva.
O estudante é incentivado a compartilhar seu projeto e o conhecimento que adquiriu ao executá-lo.
No Share, os estudantes podem, por exemplo, fazer comparações críticas, tentando entender seus projetos em relação a outros que tenham desafios similares; realizar uma competição simulando situações reais comuns à rotina de trabalho; ou podem combinar seus projetos, somando as soluções e aprendizados, para resolver um certo problema de uma forma mais robusta.
Como exemplo podemos citar o Projeto DAD, que consiste em reunir grupos de estudantes para projetar, montar e desmontar um modelo em escala real. A etapa final do workshop inclui a criação de um vídeo para documentar a experiência.
Em um contexto de estudo individual, uma alternativa seria gravar um vídeo explicando aspectos essenciais do projeto e pedindo comentários a respeito, desenvolvendo uma discussão online sobre os aspectos envolvidos na criação.
Ao compartilhar o que aprenderam, falando sobre como fizeram e qual forma solucionaram os problemas que foram surgindo pelo caminho, os estudantes testam a profundidade do seu conhecimento perante o mundo real. O mais importante nessa etapa é criar maneiras de desenvolver aspectos da inteligência social, de forma a permitir uma melhor avaliação do entendimento, da auto-regulação e das habilidades interpessoais.
Incorporar uma metodologia prática como o FTMS às aulas pode ser uma forma de trazer o aprendizado para a vida dos estudantes, fazendo com que eles enxerguem sentido, se envolvam e se apaixonem por estruturas.
Agora queremos saber, você já experimentou uma abordagem prática na sua universidade? Pretende tentar o FTMS? Conta pra gente aqui nos comentários.
Para se aprofundar:
Palestras e apresentações do William Rankin [Em inglês]
Texto explicativo sobre o FTMS de autoria de William Rankin [Em inglês]
Palestra sobre como projetar melhores experiências de aprendizagem [Em inglês]
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